terça-feira, 23 de julho de 2013

Antes: Fazendas... Hoje: Um Bairro que abriga outros bairros --> O Nordeste de Amaralina




Com base no livro Memórias da Região Nordeste de Amaralina, o espaço físico em que se desenvolveu a Região Nordeste de Amaralina, na segunda metade do século XIX, era composto por quatro fazendas que mais tarde foram loteadas: Amaralina (antiga Fazenda Alagoas), Ubaranas, Pituba e Santa Cruz. Essas fazendas pertenciam, originalmente, à sesmaria Ilha de Itaparica. Com a falência do sistema de capitanias hereditárias, os nobres portugueses tomaram posse das terras. 
  
A gleba do Rio Vermelho, que abrangia toda a região do final de Ondina até a Praia de Armação passou aos netos do Visconde do Rio Vermelho. Estes iniciaram um processo de urbanização através de uma sociedade por ações intitulada Cidade da Luz, dividindo as terras em seis fazendas: Fazenda Paciência, Fazenda Alagoas, Fazenda Santa Cruz, Fazenda Ubaranas, Fazenda Pituba e Fazenda Armação do Saraiva (TRAÇOS E LAÇOS, 2006, p.11).

A Prefeitura de Salvador aprova, em 1932, a criação dos loteamentos: Cidade Balneário Amaralina, Cidade da Luz (Pituba), e Ubarana, que se constituíram em regiões de veraneio para a elite baiana da época. Inicialmente formada por uma pequena colônia de pescadores, iniciando assim uma ocupação marginal nas áreas das fazendas pela população pobre que vinha em busca de empregos. O primeiro núcleo populacional do Nordeste de Amaralina localiza-se na área do Loteamento Ubaranas.

Nas áreas da Fazenda Pituba, que ia da orla até o bairro de Brotas, envolvendo a Santa Cruz e o Parque da Cidade, a ocupação foi mais difícil. Porque o administrador desta fazenda, Sr. Joventino Pereira da Silva, colocava seus capangas para proteger a propriedade. Por isso o loteamento Santa Cruz teve aprovação da prefeitura em 1954, apesar de ter sido proposto em 1951.
 
Dados da Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente mostram que até 1944 apenas 1.320 pessoas residiam nessa área, passando, 10 anos depois, a ter 5.083 moradores. Houve uma intensificação na ocupação deste bairro a partir das décadas de 60 e 70, modificando as características da região. Sendo que os principais atrativos para a ocupação deste complexo (já que envolve outros bairros) foram à pavimentação da via que ligava Amaralina à Pituba, ainda em 1949, facilitando o acesso e o crescimento econômico da cidade e impulsionado pela criação da Petrobrás, em 1953.
 
Nessa época a maior invasão de Salvador estava localizada no Subúrbio Ferroviário, o bairro de Alagados, e o Nordeste de Amaralina era tido como a segunda maior invasão da cidade, já que não tinha os serviços básicos para oferecer a comunidade, por isso ela teve que se organizar cedo. Em 1957, cria-se a Sociedade de Defesa dos Moradores do Nordeste de Amaralina e Adjacências, com caráter reivindicatório, porém por causa do período da ditadura militar, ela e fechada e posteriormente se transforma na primeira escola comunitária do bairro: Creche Coração da Mamãe, existente na localidade até hoje e que é situada na Rua Alto da Alegria.

Na década de 1960, com a vinda da italiana Anna Sironi para a Região, inicia-se também uma organização de cunho católico, com a construção de duas igrejas, uma associação de moradores e uma escola comunitária.

E em 17 de Junho de 1978 a identidade da Região foi homologada através do Decreto-Lei nº. 5.403/78, assinado pelo Prefeito Fernando Wilson, com a criação da Zona Homogênea Nordeste de Amaralina, que abrangia os quatro bairros já citados anteriormente. Esse decreto visava assegurar a criação de uma reserva ambiental, possibilitando um melhor planejamento urbano daquela área. 

Por que este nome: Nordeste de Amaralina? 

 

Segundo a Lenda...


Moradores antigos comentam que o nome do bairro surgiu a partir de uma lenda. Conta que havia um moço muito rico da cidade que se apaixonou pela filha de um pescador, chamada Lina. Todos os dias o rapaz saia para ver a jovem, mas não podia revelar aonde ia, pois sua família não aceitaria o namoro. Por isso, quando questionado sobre para onde se dirigia, ele respondia: "Vou amar a Lina". No entanto, as pessoas entendiam que o lugar para onde ele ia se chamava Amaralina. Com o passar do tempo, o nome da Fazenda Alagoas foi substituído pelo nome Amaralina. Da história de amor entre dois personagens: Amaral e Lina, surgiu a Região Nordeste de Amaralina.  
Amaralina faz uma referência ao sobrenome Amaral, cuja linhagem descende do comendador Álvares do Amaral, proprietário da antiga Fazenda Alagoas.


" Porém há quem afirme que o topônimo Nordeste de Amaralina é uma referência à região Nordeste do Brasil devido a concentração de pobreza."

Como os invasores chegaram a este Bairro? 

De acordo com informações do srº Araújo, mais conhecido pelo apelido de Zé Paquinha, 39 anos de idade e 20 anos de residência no Nordeste, quando chegou ao bairro não havia quase nada do que existe hoje.
Em 1952 ou 53 começaram a aparecer os invasores. Quando eles chegavam para marcar os terrenos, a polícia atacava o pessoa e o povo corria. Mas, quando os PM's "davam sopa" as pessoas retornavam e marcavam o chão. Isso acontecia constantemente até que eles desistiram de perseguir. A partir daí o negócio melhorou e o bairro tomou um impulso bem grande com os novos moradores.
(Fonte: Jornal a Tarde 28/03/1972, cad.1, pág.62)

A comunidade da Rua Nordeste de Amaralina, localizada no Vale das Pedrinhas, reagem contra novos invasores. O grupo começou a ocupar terrenos que ficam no fundo das casas da rua principal, as áreas que antes eram destinadas ao lazer vem sendo ocupadas pelos invasores, causando problemas a rede de águas pluviais e a própria circulação de carros e pedestres.
Os invasores diziam ser protegidos politicamente por pessoas influentes. No entanto, os moradores prejudicados passaram a dirigir apelo ao prefeito Mário Kertesz, no sentido de evitar que se consumisse mais essa agressão a quantos respeitaram as diretrizes municipais deixando as ruas livres para entrada e saída, e de uma hora para outra oito invasores aparecem para se apoderar de uma área e prejudicar a todos que ali habitam e pagam os seus impostos.
(Fonte: Jornal a Tarde 01/10/1986, cad 1, pág. 02)

 Conversando com os moradores:

Srº José Silva "seu Pelé" (60 anos): Conta que reside na Rua Jutahy Magalhães, localizada na Região Nordeste de Amaralina - Santa Cruz, desde 1974. Comprou o terreno que hoje é sua residência em 1963 na mão de Márcio Borges dono da Fazenda Santa Cruz, porém não teve pressa para construir. Anteriormente morava com sua mãe na Curva Grande (Garcia), porém como houve desativação daquela área próxima ao DPT, veio alugar uma casa nesta rua enquanto não iniciava a construção da sua casa. Lembra que quando chegou a esta rua era um caminho muito apertado, cheio de barro, nos lados bastante mato, que até para passar com  material no carro de mão ou no animal era muito complicado, por ser muito estreito.
De maneira geral o bairro não tinha muitas casas, comércio aqui próximo, só me recordo do Depósito de Seu Barriga que existe até hoje vendendo bebidas, fica ali na rua Gilberto Maltez no Vale das Pedrinhas, mas antes ele ia à feira e colocava vários produtos para vender na porta de casa.
Asfalto aqui demorou um pouco, tive que fazer vários abaixo-assinado e levar constantemente para os políticos tomar providências e pavimentar nossa rua.
Os ônibus não vinham até o final de linha da Santa Cruz, Vale ou Nordeste como hoje, quem queria vir até a Santa Cruz descia no atual Parque da Cidade e subia pelo caminho que hoje é a Ladeira da Santa Cruz. Quem iria para o Nordeste, pegava o ônibus que fazia a linha Parque Cruz Aguiar, soltava no Rio Vermelho próximo ao Bompreço e a Escola Manoel Devoto e andava pelos caminhos para chegar no Vale das Pedrinhas e em seguida no Nordeste.
Hoje, apesar da violência e das muitas dificuldades enfrentadas pelos moradores, temos um bairro populoso com vários comércios pertinho da gente, escolas,  igrejas, farmácias, postos de saúde e também as Bases Comunitárias de Seguranças que por mais que algumas pessoas não gostem, eu percebi que contribuiu para amenizar a violência em nossa comunidade.


Srº Jorge Brito (46 anos): Sou nascido e criado neste bairro, morava com meus pais na Rua João XXIII - Santa Cruz, lembro que tinha muito mato e terrenos baldio, pouquissimas casas e nas proximidades do Areal porcos e galinhas ficavam na rua como se tivessem numa fazenda. Tinha muita dificuldade para pegar ônibus, pois tinha que caminhar muito já que não tinhamos final de linha em nosso bairro. O bairro que é chamado hoje de Vale das Pedrinhas, tenho lembrança de ter sido o último que foi criado aqui, era uma extensa vala de esgoto, próximo a ela plantações de hortalícias e nas proximidades casas que vendiam carvão, porque a maioria dos moradores cozinhavam à lenha. Na gestão do prefeito Mário Kertesz fecharam esta vala, abriram uma pista e acharam no solo várias pedrinhas, daí o nome do bairro.
Policiamento era praticamente inexistente, a bandidagem agia livremente. Hoje, ainda há violência no bairro, porém com as bases há um policiamento frequente que ajuda a inibir as ações dos bandidos.
Quando me casei passei a morar na Rua Jutahy Magalhães, hoje tenho cerca de 23 anos nesta rua, ainda alcancei a rua sem asfalto, quando chovia a água adentrava em algumas residências. O asfalto que temos até hoje quem conseguiu foi a candidata a vereadora Cássia, amiga da prefeita Lídice da Mata, na verdade foi uma "borra de asfalto" para que os moradores deixassem de caminhar no barro. Porém favoreceu a coleta de lixo, hoje o caminhão pode passar para recolher em nossa porta. Mas, até hoje a população sofre com buracos na rua, esgostos descobertos, quando chove o lixo toma a rua e por ser um bairro pobre os políticos só olham para cá em época de campanha eleitoral, infelizmente ainda é a nossa realidade. Contudo, não posso negar que o bairro alcançou uma melhoria significativa.


  •     Em 25 de Outubro de 2004 a comunidade N. de Amaralina ganhou a 1ª Delegacia (28ª CP) situada no Largo da Feirinha - Final de Linha.
     
  • Em 2004 foi criado o programa de desenvolvimento integrado "o Viva Nordeste" liderado pela Secretaria do Trabalho, Ação Social e Esporte (SETRAS). Em 2007, o Viva Nordeste passou a se chamar CSU (Centro Social Urbano) sob a administração da SEDES, Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza. Tal projeto veio para integrar a comunidade, por isso que foi desenvolvido em eixos que ligam cultura, esporte, geração de emprego e renda e organização comunitária.

  • Em 27 de Setembro de 2011 foram instaladas as bases comunitárias de segurança do complexo  de Amaralina: Nordeste de Amaralina, Santa Cruz e Vale das Pedrinhas, com 360 policiais – 120 em cada uma delas –, 16 viaturas e 25 câmeras de monitoramento. Visando a redução no número de ocorrências desta região.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 


BRANDÃO, Maria de Azevedo. Salvador: da transformação do centro à elaboração de periferias diferenciadas. In: LIMA, Paulo Costa (coord.). Quem faz Salvador. Salvador: UFBA, 2002.

CÂMARA, Marcos Paraguassu de Arruda. Os construtores do discurso sobre a cidade invisível. In: LIMA, Paulo Costa (coord.). Quem faz Salvador. Salvador: UFBA, 2002.

ESPINHEIRA, Gey. A cidade invisível e a cidade dissimulada. In: LIMA, Paulo Costa (coord.). Quem faz Salvador. Salvador: UFBA, 2002.
 

OLIVEIRA, Larissa. Inclusão Social no Nordeste de Amaralina. [Disponível em: http://www.lupa.facom.ufba.br/2008/11/inclusao-social-no-nordeste-de-amaralina/]

Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente. (Documento)

TRAÇOS E LAÇOS – Memória da Região Nordeste de Amaralina. Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte, Programa Viva Nordeste, Hora da Criança, Projeto Unindo Talentos. Salvador, 2006.

Site: http://www.nordesteusou.com.br/historia

Site: http://www.pactopelavida.ba.gov.br/base-comunitaria-de-seguranca/


 



Saiba um pouco sobre a Cidade do Salvador



 Salvador foi a primeira capital do Brasil até o ano de 1763. Na época de sua fundação  era chamada de “São Salvador da Bahia de Todos os Santos”, a cidade passou a ser descoberta pelos colonizadores no ano de 1510, quando um navio francês naufragou em terras baianas, trazendo a bordo um dos mais importantes personagens históricos da colonização baiana, Diogo Álvares, conhecido como Caramuru. Caramuru juntamente com a índia Paraguaçu, desempenharam importante papel dentro da história da colonização da Bahia. Por volta de 1536, o rei de Portugal, D João III dividiu as terras brasileiras em Capitanias Hereditárias. Os donos das Capitanias eram chamados de donatários e Francisco Pereira Coutinho ganharam parte do território de Salvador, fundado na época como “Arraial do Pereira”. Coutinho teve o comando do Arraial, mais tarde batizada de “Vila Velha” até 1549 na ocasião da chegada de Tomé de Souza, o primeiro governador geral do Brasil. Juntamente com Tomé de Souza desembarcaram em Salvador seis embarcações com uma comitiva de aproximadamente 10 mil pessoas para fundar sob ordens do rei de Portugal, a cidade de “São Salvador”. 

Atualmente esta cidade é uma das mais visitadas do país, capital da Bahia atrai muitos turistas a cada ano, interessados em aproveitar o calor nordestino, a descontração baiana e a rica cultura soteropolitana. Ela é atraente para os turistas tanto pela beleza natural, quanto pela riqueza cultural que dispõe, tornando-se cada vez mais perversa com os seus moradores, que disputam um lugar no sistema capitalista globalizado. 

Marcada por construções do período colonial, a cidade apresenta igrejas, fortes, palácios e vários casarões no Pelourinho, além de belíssimas praias. Com ruas estreitas e ladeiras íngremes, Salvador é dividida em Cidade Baixa e Alta, que são ligadas na região central pelo Elevador Lacerda.

Seu traçado, ampliado com a modernização e crescimento populacional, imprimiu uma forma de organização marcada pela segregação social, e por que não afirmar, também racial, definida como periferização.

Tornar as periferias o foco da reflexão sobre a Salvador contemporânea tem relação direta com determinados aspectos sócio-culturais, que foram se modificando durante o processo de modernização da cidade e que, ao mesmo tempo, figuram nas comunidades populares, afro-descendentes, como elementos de resistência à dominação cultural e à exclusão social.